Suspiro, aborrecido, pois, a operação...com o silêncio súbito quase me esquecia
A sério! Caramba, todos os sons desapareceram, nem a gravilha a arrastar, nem gemidos ao longe, a sério! Quer dizer, pode parecer parvo, mas parecia...parecia que tudo tinha parado para ver o que iria fazer!
Continuava nervoso, suor continuava a escorrer-me, o rapaz estava inconsciente, verdade, tinha sido eu que o havia metido nesta inconsciência, mas nunca fui muito forte e não sabia quanto tempo duraria...
A gaze agora estava inútil, a ferida estava limpa, mas desinfectada? Disso não poderia ter a certeza, e como poderia, acaso carregava um microscópio no bolso, não, já disse que só trazia o essencial, tinha alguns bens que não pude carregar, mas isso agora não interessa, a gaze estava inutilizada, e não usaria outra, teria que arriscar uma infecção.
Ainda bem que ele tinha o agrafador, seria útil, olhando a ferida vi as bordas vermelhas em forma de ondas, a afastarem-se da ferida, que era um buraco a ganhar um tom esverdeado, era nojento, mas já tinha visto coisas piores em decumentários...
A gaze tinha retirado a gravilha, assim como as pedras e a terra, estava pronto a fazer isto, o sangue, que tinha molhado a gaze, parecia estar a reduzir o fluxo, não tinha luvas, excepto para o frio, já que 90% do calor corporal desaparecia através das extremidades, e não as ia estragar, também não tinhas as mãos propriamente limpas, mas estes pensamentos não interessavam, tinha que o fazer...
Peguei nas bordas da ferida, aquelas avermelhadas e uni-as, como se fossem lábios. Uma espécie de muco saiu desses "lábios" e tornou-os escorregadios, mas não os larguei, continuei a segurá-los com uma mão e com a outra agrafei a ferida com 4 agrafes...
Senti o corpo estremecer, e começar a abanar, o tipo não tinha acordado, mas estava perto...
Agora a sarar a ferida, não sabia se isto iria funcionar, era só uma conjectura, mas mesmo assim filo, espalhei óleo na ferida e deite-lhe fogo....
O tipo acordou imediatamente, a sério, mal tive tempo de largar-lhe o corpo! Começou a gritar e a abanar, tentou levantar-se, eu entrei em pânico, procurei na sua mala e atirei-lhe toda a água de uma garrafa que ele trazia...
Foi algo estúpido, o óleo a arder espirrou e incendiou-lhe as calças e a cara, ele começou a gritar mais, tinha que me lembrar de como apagar este fogo, mas como é que o faria, com ele aos gritos?
- CALA-TE! - Gritei-lhe, mas ele ignorou-me, eu entendia, quer dizer, devia ser bastante doloroso, mas que espalhafaço ele fazia, tentei concentrar-me, sim...primária, um dos últimos tempos em que tinha sido feliz, lentamente os gritos desapareceram enquanto me recordava...
3º Ano, mesmo nessa altura era magro e pequeno, embora obviamente, mais do que agora, ao contrário de actualmente as minhas faces estavam morenas e rosadas, estava na sala de aula, e a professora tentava acalmar-nos:
- Vamos meninos, vamos a acalmar, tenho aqui uma pessoa que gostaria de falar convosco...
Acalmámos-nos, pelo menos temporariamente, a curiosidade natural de criança a parar-nos, depois de umas apresentações de "Olá meninos", e tal apareceu um bombeiro...
Vestia o uniforme, vermelho e branco com o boné de metal, decerto que viram o uniforme em filmes, portanto não o vou descrever, de qualquer maneira não tenho pachorra, passei rapidamente o discurso até chegar à parte que me interessava:
- Num fogo com óleo de cozinha nunca usem água, porque depois espalha-se e queima-vos - Pois demasiado tarde para isso...o que dizia o resto? - Apenas desliguem o gás e tapem o fogo, para ele não poder comer, pois como vocês ele precisa de comer para viver não é?
Portanto era isso, tinha que tapar o fogo, peguei num cobertor que tinha numa das minhas malas, despejei o seu conteúdo e cobri o Mark com o cobertor, os gritos deles foram abafados, depois de alguns segundos quando levantei o cobertor os decibéis aumentaram e o fogo reacendeu-se, gritando, para ter a certeza que o outro ouvia enrolei-o no cobertor e gritei-lhe:
- Rebola estúpido!
Ele começou a rebolar, mas será que funcionaria?
Sem comentários:
Enviar um comentário